A alimentação à base de insetos, para além de saudável, é mais uma forma de garantirmos a sustentabilidade do planeta.

Já dizia Fernando Pessoa, quando na década de 1920 criou o slogan para o lançamento da Coca-Cola em Portugal: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”.

Se, à primeira vista, o conceito de comer insetos pode parecer uma coisa esquisita (e até um pouco repugnante para alguns), a verdade é que, nos últimos anos, este mercado tem vindo a crescer consideravelmente.

É claro que não lhe estamos a dizer para ir ao jardim procurar minhocas para fazer o jantar: não é assim que o consumo de insetos funciona. Mas são já vários os especialistas - de produtores a ambientalistas, passando por nutricionistas e chefs - que atestam os benefícios e as vantagens de incluirmos este tipo de animais na alimentação.

Se ainda não está convencido, reunimos cinco questões importantes para esclarecer qualquer dúvida que ainda possa ter quanto ao consumo de insetos.

Como e que surgiu esta ideia?

A entomofagia - que é a prática de utilizar insetos como fonte de alimento - é referida ao longo da história em literatura religiosa cristã, judaica e islâmica. Este tipo de alimentação está bem documentado e há registos escritos, que datam de tempos tão antigos como o século oito antes de Cristo, espalhados um pouco por todo o mundo: Médio Oriente, Grécia, Roma Antiga ou China.

Já um pouco mais próximo da atualidade, foi apenas no século XIX que exploradores trouxeram, pela primeira vez, relatos do consumo de insetos em países tropicais, dando a conhecer esta prática ao mundo ocidental.

A verdade é que esta tendência nunca teve grande adesão na Europa. Até agora. Há alguns anos começaram a surgir produtores e empresas interessados em investir na produção de insetos para consumo, mas só em maio de 2021 é que a União Europeia aprovou o primeiro produto derivado de insetos para consumo humano: a farinha produzida a partir de larvas de escaravelho.

Todos os tipos de insetos podem ser consumidos?

Não. Em Portugal, e cumprindo a norma europeia, foi também no ano passado que a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária autorizou a utilização de larvas de Tenebrio molitor desidratadas para consumo humano.

No entanto, devido a uma medida transitória, é possível comercializar outros insetos no nosso país desde que cumpram as seguintes regras:

  • Terem sido colocados legalmente no mercado, num país da União Europeia, antes de 1 de janeiro de 2018;
  • Ter sido apresentado um pedido válido de autorização de colocação desse inseto no mercado, como novo alimento ou alimento tradicional de país terceiro, antes de 1 de janeiro de 2019;

Assim, os insetos que podem ser consumidos em Portugal, para já, são: Acheta domesticus (grilo-doméstico), Alphitobius diaperinus (besouro), Gryllodes sigillatus (grilo-doméstico tropical), Locusta migratória (gafanhoto-migratório) e Tenebrio mollitor (tenébrio). Estes insetos só podem ser comercializados ou usados inteiros (não vivos) e moídos.

Quais são os benefícios para a saúde?

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) diz, no seu relatório de 2013 sobre o consumo de insetos, que estes “são alternativas nutricionais e saudáveis a opções comuns como a carne de de frango, porco, vaca e até peixe.”

Do ponto de vista nutricional, os insetos constituem uma excelente opção, já que são uma grande fonte de proteína (os níveis podem ser superiores a 70%), contêm aminoácidos importantes para o ser humano, têm alto teor de gorduras mono e polinsaturadas e são ricos em micronutrientes.

E quais os benefícios para o planeta?

De acordo com os especialistas, e ao ritmo a que a população mundial está a crescer, dentro de algum tempo não será possível alimentar toda a gente. Por isso, o consumo de insetos pode ser a solução.

Além de poder ajudar a resolver o problema da fome, os produtos à base de insetos podem também ser a chave para combater as alterações climáticas.

A criação de gado e as aquaculturas exigem cada vez mais recursos e trazem consequências devastadoras: emissão de grandes quantidades de gases com efeito de estufa, desflorestação e contaminação de solos são apenas algumas delas.

Em sentido contrário, a produção de insetos para alimento tem várias vantagens ambientais:

  • Utiliza-se uma quantidade muito menor de alimento;
  • É emitida muito pouca quantidade de gases com efeito de estufa e amoníaco;
  • Requer o uso de menores quantidades de água, comparativamente com o gado.

O que é que já existe no mercado e onde e que se pode encontrar os produtos?

A comercialização destes produtos ainda é feita, sobretudo, diretamente pelas empresas produtoras. No entanto, já é possível encontrar, por exemplo, snacks e barras proteicas nalguns supermercados.

A Portugal Bugs, por exemplo, foi uma das primeiras marcas a lançar produtos alimentares à base de insetos e o seu portfólio inclui barras proteicas, farinha, snacks, chocolates e massa fusilli. Já a GotanBug especializou-se nos grilos e tem à disposição snacks de vários sabores e farinha de grilo. Além destas, existem também empresas que se dedicam exclusivamente à produção de insetos, como a Aki à Bixo, a EntoGreen ou a GreenMeal.

Resta saber: está convencido para experimentar ou nem pensar?