A compensação carbónica deve ser um compromisso de todos. Descubra porquê e qual a importância dos créditos de carbono.

Imagine que todos os dias leva os seus filhos à escola no seu carro movido a gasolina. Ao chegar a casa, à hora do jantar, repara que a porta do frigorífico esteve mal fechada o dia todo. Depois, usa um fogão a gás, num modelo antigo e pouco eficiente, para cozinhar o jantar. Aproveita ainda, após o jantar, para tomar um duche e relaxar, utilizando, mais uma vez, uma opção a gás como o esquentador. De seguida, ao serão, acende as luzes da sala - com lâmpadas incandescentes e não LEDs - para ler um livro. Não só não está a fazer um uso muito eficiente da energia, como a sua contribuição carbónica está a ser mais alta do que deveria.

Imagine agora este outro cenário: todos os dias vai levar os seus filhos à escola, mas como o carro é da empresa não o pode trocar por um elétrico. Pode, no entanto, investir numa opção de eletricidade mais verde e até em painéis solares para produzir energia 100% renovável para autoconsumo, bem como substituir todas as lâmpadas incandescentes por lâmpadas LED ou até mesmo poupar a carteira e o ambiente através de banhos com soluções de aquecimento de água mais eficientes. Deste modo, estará a reduzir a sua pegada carbónica.

Compensação carbónica: o que é e quais as vantagens?

A compensação carbónica é uma forma de, não só ganhar consciência da sua pegada de carbono, como de anular ou neutralizar essas emissões. É possível comprar compensações de carbono a empresas que as comercializam e desta forma apoiar projetos que resgatam ou evitam a emissão de carbono.

O primeiro passo para a compensação carbónica é medir as suas emissões de carbono. Ou seja, calcular o número de toneladas de CO2 emitidas pela utilização do gás natural em sua casa ou no seu negócio.

Depois, pode apoiar financeiramente um projeto que reduza as emissões de carbono noutro lado do planeta — devem ser privilegiados projetos cujas reduções de emissões já ocorreram e foram validadas por entidades credenciadas nesta área.

Compensar carbono à escala mundial

O compromisso mundial da comunidade internacional aconteceu com o Acordo de Paris, já que esta compensação é uma das medidas para atingir a neutralidade carbónica em 2050. Através da iniciativa Climate Neutral Now da Organização das Nações Unidas, empresas e organizações espalhadas pelo mundo comprometeram-se a medir a sua pegada carbónica, reduzi-la o máximo possível e compensar as emissões que não podem ser evitadas com alternativas sustentáveis.Tendo em vista o objetivo final da compensação carbónica, esta iniciativa Climate Neutral Now é composta por três etapas principais:

  • Substituir o uso de combustíveis fósseis por energias renováveis e limpas, como a eólica, a hídrica ou a solar
  • Reduzir o consumo de energia e a utilização de combustíveis fósseis através de medidas de eficiência energética
  • Capturar o carbono com projetos de reflorestamento e regeneração florestal.

Esta solução opera através do mercado de carbono com a comercialização de certificados regulados pela ONU que comprovam a redução de CO2 para a atmosfera: os chamados créditos de carbono.

Créditos de carbono: o que são e como funcionam

Como referido, os créditos de carbono são certificados regulados pela ONU. Cada um destes créditos representa uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida, tendo de se cumprir as três etapas atrás referidas para gerar estes créditos.

As empresas e organizações com um elevado nível de emissão de gases de efeito de estufa e com poucas soluções para a redução dos mesmos, podem comprar créditos a outras organizações com práticas mais sustentáveis, que conseguem compensar as suas emissões e ser credoras neste mercado.

Esta compensação com créditos de carbono garante que a iniciativa seja, não só benéfica para neutralizar os efeitos das alterações climáticas, mas também que contribui para o desenvolvimento sustentável das comunidades locais, onde os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo de várias empresas internacionais estão implementados. Por exemplo:

  • Projeto de energia solar de 5MW na vila Gaon Talab, na Índia. A Dharampal Premchand é a promotora deste projeto que contribui para o acesso à energia na região, com a utilização de energia renovável no mix da rede. Este projeto prevê uma redução anual de emissões de CO2 para a atmosfera de 8.992 toneladas
  • Cozinha limpa no Gana. A CookClean produz fogões eficientes para o Gana, substituindo os fogões tradicionais ou as fogueiras alimentadas a combustíveis fósseis, que matam cerca de 13.400 pessoas e sujeitam outras 21 milhões à poluição da atmosfera doméstica. Prevê-se que o projeto resulte numa redução das emissões de CO2 na ordem das 720.000 toneladas
  • Primeiro parque eólico na Mongólia. Chama-se Salkhit Wind Farm e é o primeiro parque eólico conectado à rede do país, respondendo à crescente procura de eletricidade na região. A geração de eletricidade líquida total anual esperada deste parque eólico é de 168,5 GWh, com uma redução de emissão anual de 178.778 toneladas de CO2.

Reduza a sua pegada carbónica

Se quer desempenhar um papel ativo para a descarbonização, pondere começar a produzir a sua própria energia renovável, instalando painéis solares na sua casa ou empresa. Prefira os transportes públicos ao uso do carro, e caso tenha essa possibilidade, troque o seu carro a combustão, por um veículo elétrico. Em sua casa, pode ainda trocar o esquentador a gás por uma solução de aquecimento de água elétrica, como um termoacumulador ou bomba de calor. Estas trocas irão tornar a sua casa mais eficiente e mais amiga do ambiente. As gerações futuras vão agradecer.