Neste artigo explicamos-lhe tudo sobre os créditos de carbono: o que são, como funcionam e porque são tão importantes para a descarbonização.

Foi em 2015, com o Acordo de Paris, que a comunidade internacional chegou a um compromisso para compensar as emissões de carbono à escala mundial, com o objetivo de atingir a neutralidade carbónica em 2050.

Através da iniciativa Climate Neutral Now, da ONU, várias empresas e organizações de todo o mundo comprometeram-se a reduzir a sua pegada de carbono e a compensar as emissões que não podem ser evitadas. Para isso, foram definidas três etapas principais:

  • Substituir os combustíveis fósseis por energias renováveis;
  • Reduzir o consumo de energia;
  • Capturar o carbono através de projetos de reflorestamento e regeneração florestal;

Esta iniciativa funciona através do mercado de carbono, que comercializa certificados regulados pela ONU que comprovam a redução de CO2 para a atmosfera: os créditos de carbono.

O que são créditos de carbono?

Os mercados de carbono nasceram em 1997 com o Protocolo de Quioto, o primeiro acordo internacional que visava a redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE), começando, então, a transação dos chamados créditos de carbono.

Estes créditos são certificados regulados pela ONU e cada um representa uma tonelada de carbono que foi evitada. Para se conseguir gerar estes créditos é necessário cumprir as três etapas definidas pelo Climate Neutral Now já referidas. E como é que os créditos funcionam? As empresas que tenham um nível elevado de emissões de GEE têm a possibilidade de comprar créditos a outras organizações mais sustentáveis compensando, assim, as suas emissões.

Damos-lhe um exemplo prático: a empresa A emite 120 toneladas de CO2 por ano, mas os regulamentos limitam a emissão a 100 toneladas. A empresa terá de reduzir as emissões, mas não o consegue fazer no curto prazo. Por outro lado, a empresa B, com práticas mais sustentáveis, emite 80 toneladas de CO2 em vez das 100 regulamentadas. A empresa A poderá comprar os 20 créditos de carbono que a empresa B não utiliza, compensando as toneladas a mais de CO2 que emite.

Porque são necessários?

O Acordo de Paris levou quase 200 países a aceitar o compromisso de limitar o aumento das temperaturas a dois graus Celsius ou, idealmente, a um grau e meio. E, para se atingirem esses valores, definiu-se que as emissões de GEE deveriam ser reduzidas em 50% até 2030 e chegar a zero - ou até mesmo a valores negativos - em 2050. É aqui que entram os créditos: sem eles não será possível alcançar a neutralidade carbónica.

Desvendar o mito: comprar créditos de carbono é “batota”?

A resposta é não. O pressuposto por detrás dos créditos de carbono não é pôr um preço nas emissões de modo a que as empresas possam pagar para emitir CO2. É, sim, mais uma forma de ajudar a alcançar a descarbonização.

No entanto, nem sempre é realista atingir a neutralidade carbónica, já que nalgumas indústrias não é possível eliminar totalmente as emissões. Por isso é que os créditos de carbono - sejam eles adquiridos através do mercado regulado (quando as empresas são obrigadas a comprar créditos para cumprir a regulação imposta pelo Estado) ou do voluntário (quando as empresas, por si, decidem aderir à compra de créditos, canalizando dinheiro para projetos de ação pelo clima) - são essenciais.

O mercado voluntário de créditos de carbono

Apesar de os créditos de carbono serem já utilizados há décadas, o mercado voluntário tem crescido significativamente nos últimos anos. De acordo com a McKinsey, cada vez mais empresas têm aderido a este mercado, tendo duplicado, em menos de um ano, o número de organizações que se comprometeram a atingir a neutralidade carbónica: de 500 em 2019, para mais de 1000 em 2020. Também segundo a mesma consultora, estima-se que no ano passado foram retiradas da atmosfera, através dos créditos de carbono voluntários, cerca de 95 milhões de toneladas de CO2, mais do dobro do que se conseguiu em 2017.

O mercado voluntário de compra de créditos é de vital importância, já que direciona o investimento para projetos de ação climática que, de outra forma, não seriam financiados. Assim, para além de serem compensadas as emissões carbónicas, o investimento em créditos de carbono traz outros benefícios ambientais, como a proteção da biodiversidade, a prevenção da poluição, ou o reflorestamento e regeneração florestal, que contribuem para sequestrar o carbono da atmosfera.

Para além disso, os créditos de carbono também financiam as inovações necessárias para baixar os custos das tecnologias mais amigas do ambiente (importantíssimas para que as empresas consigam aplicar, com um custo relativamente reduzido, medidas de redução das emissões).

As ações apoiadas pelos créditos de carbono

Nem todas as ações apoiadas pelos créditos de carbono trazem benefícios. Por exemplo, se a ação de compensação financiada pelos créditos é algo que ocorreria de qualquer forma (a título de exemplo, direcionar dinheiro para proteger florestas que já são protegidas), então essa ação não é credível e, na prática, não está a contribuir para a descarbonização. Por isso é que, para evitar os chamados “créditos falsos”, estes têm de ser regulados por entidades como a ONU.

Para que os créditos de carbono sejam reais e façam a diferença no combate às alterações climáticas, os projetos financiados têm de desencadear um benefício ambiental que vai muito além das práticas correntes e mostrar que não poderiam ser implementados sem as receitas dos créditos de carbono. Assim, a solução poderá passar por comprar créditos que apoiem projetos mais pequenos, já que são estes que têm menor viabilidade económica e onde o investimento dos créditos pode fazer toda a diferença.

O que tem sido feito na União Europeia?

A União Europeia ambiciona ter um impacto neutro no clima em 2050, ou seja, alcançar uma economia com zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa. Para isso, lançou a estratégia EU Emissions Trading System, que funciona através do sistema de “cap-and-trade” ou, em português, “limitar e negociar”.

Assim, é definido um limite máximo de GEE que pode ser emitido pelas empresas e organizações abrangidas pelo sistema. Esse limite é, depois, gradualmente reduzido, de forma a que as emissões totais baixem. De seguida, as organizações compram ou recebem créditos que podem, então, ser trocados.

Este sistema funciona por fases estando, neste mesmo, na quarta (2021-2030) e tem-se mostrado bastante eficiente: entre 2005 e 2019, as empresas que participaram no mercado reduziram em 35% as suas emissões.

As PMEs e o mercado dos créditos de carbono

Se pensa que os créditos de carbono são apenas para grandes empresas, desengane-se. Na verdade, o combate às alterações climáticas é tão urgente que qualquer ajuda é fundamental. Assim, até mesmo a entrada das pequenas e médias empresas no mercado dos créditos pode ter um impacto significativo no caminho para a descarbonização.

Os créditos de carbono são uma excelente forma (e pouco dispendiosa) de ajudar os pequenos negócios a atingirem a neutralidade carbónica. De acordo com Ben Block, CEO da GozAround Green, se cada um de nós reduzisse ou compensasse apenas 10% das suas emissões, o impacto no planeta seria enorme.

Ir além dos créditos de carbono

Já vimos que os créditos de carbono são uma forma viável, credível e fundamental para ajudar a atingir a descarbonização, já que compensam as emissões de CO2 indispensáveis. No entanto, o primeiro passo, e o mais importante, é mesmo reduzir as emissões de carbono e a EDP pode ajudar a sua empresa a fazê-lo. Desde a transição para energias renováveis através, por exemplo, da instalação de painéis solares, até às soluções de mobilidade elétrica para a sua frota, passando, até, pelas auditorias energéticas para perceber como pode melhorar e otimizar as instalações da sua empresa, temos várias opções para o ajudar a alcançar a neutralidade carbónica.