Nos últimos anos foram construídos muitos quilómetros de ciclovias, de norte a sul do país, e há mais planeados para o futuro. Fique a conhecê-las.

Desafio qualquer cidade a apresentar planos de neutralidade climática que não envolvam um aumento substancial na repartição modal da bicicleta e uma tentativa de eliminar ou reduzir drasticamente as deslocações em automóvel dentro da cidade”. A frase é de Matthew Baldwin, vice-diretor da direção geral da mobilidade e dos transportes da Comissão Europeia e coordenador europeu para a Segurança Rodoviária, em entrevista ao jornal português Mensagem de Lisboa.

Os dados mostram que a utilização de meios de mobilidade suave, como as bicicletas ou as trotinetes (elétricas ou não), são uma das chaves para a redução das emissões de GEE (gases com efeito estufa) no centro das cidades, além de ajudarem a diminuir o número e a gravidade dos acidentes rodoviários e aumentarem a vivência do espaço público por todos.

As cidades europeias que estão comprometidas com os objetivos de neutralidade carbónica não ignoram a importância da bicicleta e desta mobilidade. Em Portugal, há vários exemplos de investimento numa rede de vias cicláveis e há projetos para a aumentar. Ao todo há mais de 3 mil km de ciclovias em todo o país.

Conheça os núcleos onde a densidade de ciclovias é maior e onde pode encontrar serviços públicos de bicicletas partilhadas e onde vale a pena pedalar, em Portugal continental, de norte a sul.

Ciclovias no Porto

Há 54 km de rede ciclável na cidade do Porto e assentam sobretudo em três polos. A Ocidente, cruzam-se várias vias na frente de mar — ligam esta zona, Matosinhos, o Parque da Cidade e a frente fluvial.

A Oriente, o Parque Oriental também tem uma via própria onde se pode pedalar e usufruir da natureza, enquanto no centro há uma via para bicicletas que liga os pólos universitários e viaja desde a faculdade de ciências à freguesia de Paranhos. Aí encontra-se com uma outra ciclovia — a da Asprela.

Estes três eixos estão, para já, isolados. Foram pensados e construídos durante a pandemia — antes, o Porto tinha apenas 19 km de ciclovias. O projeto da Câmara passa, neste momento, por ligar estes três eixos e, quando a obra estiver concluída, será possível percorrer a margem norte do Douro de bicicleta, da zona da ponte do Freixo, à Foz e à praia de Matosinhos.

Além disto, também o centro da cidade e os seus arredores estarão ligados por ciclovias e, assim, a bicicleta no Porto deixará de ser um veículo apenas de passeio e passará a estar mais presente, com segurança, no dia-a-dia de quem vive e trabalha na cidade.

Ciclovias em Aveiro

Aveiro, junto à sua ria, tem uma paisagem particularmente plana. Aqui a força das pernas basta para pedalar tranquilamente durante um dia inteiro e, talvez por isso, esta cidade é autora no primeiro projeto de bicicletas partilhadas do país: as Bugas.

O nome significa Bicicletas de Utilização Gratuita de Aveiro. Desde 2000 que qualquer pessoa pode recolher um dos mais de 300 veículos que a câmara disponibiliza no Mercado Manuel Firmino (basta deixar uma identificação). A recolha faz-se entre as 10h e as 19h e nesse período há muitos quilómetros para pedalar na região — junto à ria, pelo centro histórico onde o trânsito é condicionado, ou até ao mar.

Há vários percursos na Ria de Aveiro — um deles estende-se por 234 km e liga o Atlântico, as montanhas e o vale do Vouga. A partir daqui é também possível entrar na ecopista do Vouga e explorar cenários naturais esplêndidos. Voltando à Ria de Aveiro, há outros dois percursos que ligam os sapais aos pinhais dunares ou o centro da cidade aos vinhedos da Bairrada.

Aí bem perto, já na Câmara da Murtosa, a NaturRia é o projeto de valorização do património natural da Murtosa e permitiu a criação de uma via ciclável que liga todos os cais da região: 11km em direção à Costa Atlântica.

Para completar a rede da região, só falta cumprir-se, até 2023, o projeto de ligação do centro de Aveiro à área urbana de São Jacinto. Desta forma a ciclovia da Torreira ficará ligada às restantes e, no futuro, poderá haver uma ligação ao Furadouro.

Ciclovias em Lisboa

A cidade é conhecida pelas sete colinas, mas com o empurrão da eletricidade, as subidas não são um problema para as bicicletas. Na capital do país, o sistema de bicicletas partilhadas Gira tem mais de mil veículos e aumentou recentemente para 110 o número de estações de bicicletas manuais e elétricas. Num futuro próximo, planeia abrir mais 130 novas estações para bicicletas partilhadas.

Lisboa tem cerca de 200 km de ciclovias, depois de um incremento ambicioso feito durante os confinamentos originados pela pandemia. A cidade ainda não tem uma rede de ciclovias completamente integrada — há troços que estão ainda isolados e permitem viagens dentro de bairros ou para as zonas mais próximas. No entanto, o mapa do planeamento da rede ciclável lisboeta mostra que é esse o futuro: uma cidade onde é possível ir de uma ponta à outra de bicicleta.

A estratégia está a dar os seus frutos: um estudo do Instituto Superior Técnico mos-tra um aumento de 25% nos utilizadores das ciclovias entre 2019 e 2020, afirma que há mais pessoas a usá-las para trabalhar como estafetas e cada vez mais pais que se sentem confortáveis e seguros a usá-las com atrelados ou cadeirinhas para crianças.

Quando as obras forem terminadas será possível pedalar de Sacavém a Algés, do Bairro Padre Cruz ao Cais do Sodré, do Aeroporto para Monsanto, sem sair de uma via dedicada aos velocípedes.

Ciclovias no Algarve

No sul do país aposta-se cada vez mais em ciclovias no centro das vilas e cidades, além das várias ecovias que ligam o litoral, de lés-a-lés. Faro é um exemplo disso. Tem obras a decorrer para se concretizarem as ciclovias da 3ª circular (uma estrada nova, também ela em construção) e da Moinho da Palmeira. Recentemente a cidade inaugurou ainda a ciclovia da Avenida Calouste Gulbenkian.

Alcoutim também vai estar no mapa das ciclovias portuguesas, com uma via de circuito fechado pelo centro da vila e pela EN 122-1.

Além das vias cicláveis que nascem nos centros urbanos há várias ligações entre vilas. Uma das mais recentes (e bonitas) fica entre Castro Marim e Vila Real de Santo António. O percurso passa pelas salinas, pelos sapais e acaba na vila algarvia onde andar de bicicleta é uma tradição cultivada por todos, dos 8oito aos 80.

Para melhor se guiar por estas e outras ciclovias do país, há algumas apps a que pode recorrer. O Google Maps, por exemplo, já integrou as ciclovias e vias partilhadas nos seus mapas e definições de percursos e, em alternativa, o CycleMaps é uma aplicação feita por e para ciclistas e permite escolher, além do destino final, os pontos de paragem no percurso e calcular a melhor rota.

Pegue no mapa e nas duas rodas e vai ver que não precisa de mais para correr o país.