Existe uma crescente consciencialização para o impacto ambiental dos microplásticos libertados na lavagem da roupa. Descubra aqui pequenos hábitos para tratar a sua roupa e prevenir este problema.

Na vida, há uma regra básica: se não precisares de lavar alguma coisa, não a laves”. A frase é da designer de moda Stella McCartney, que defende práticas mais ecológicas para a indústria da moda.

E o impacto desta indústria não se fica pela produção. As lavagens também têm um impacto ambiental considerável e há um aspecto que começa agora a ser mais rigorosamente quantificado: a libertação de microplásticos. Diminuir este problema é também uma responsabilidade individual.

O que são microplásticos?

Para além do gasto de água e de energia, a lavagem de roupa liberta químicos dos detergentes e dos microplásticos presentes nos têxteis.

Estes plásticos são fibras sintéticas tão pequenas (com menos de 5 milímetros) que passam pelos filtros das máquinas de lavar e da rede de esgotos.

Dependendo da máquina de lavar roupa - em geral as que têm uma porta frontal gastam menos - o desperdício de água pode ascender aos 150 litros por lavagem.

Com o uso de detergentes e amaciadores não biodegradáveis, as águas seguem contaminadas para a rede de esgotos e transportam consigo os tais microplásticos. Acabam nos solos e nos oceanos, onde alimentam espécies que, mais tarde, podem estar à mesa de alguns de nós. A WWF publicou um estudo em 2019 que avança que, todas as semanas, em média ingerimos cinco gramas de microplásticos - o equivalente a um cartão de multibanco.

Quais os tecidos que libertam mais microplásticos?

Os microplásticos provenientes de tecidos representam 35% do total de microplásticos nos oceanos, segundo o relatório Primary Microplastics in the Oceans, da International Union for Conservation of Nature.

Os grandes responsáveis por isto são o poliéster (o material mais utilizado pela fast fashion), o polietileno, o acrílico e o elastano. Para ter uma imagem visual do que isto significa, em média, 6kg de poliéster (mais ou menos uma máquina de roupa) liberta 496 mil microfibras; o mesmo peso de poliéster misturado com algodão liberta 137 900 microfibras. O mais poluente, neste aspeto, é o acrílico, que liberta 728 700 microfibras por cada 6kg.

Componentes quimicos em laboratório

Em 2017, a Agência Portuguesa do Ambiente afirmava que os portugueses deitam fora 200 mil toneladas de têxteis todos os anos. Estima-se que os tecidos não biodegradáveis possam ficar nesses aterros até 200 anos - isto quando não são queimados.

Cuidar mal as nossas roupas ou levá-las ao limite (ou simplesmente aumentar o consumo) também tem um preço para o ambiente: tornam-se lixo e acabam em aterros. Mas há coisas que pode fazer para dimunuir a libertação destes plásticos quando lava a sua roupa.

Como reduzir a libertação de microplásticos nas lavagens da roupa

Lave menos, cuide mais

Esta é uma das razões que leva Stella McCartney - e tantos outros ativistas - a perguntar: tem mesmo de lavar a sua roupa tantas vezes? Esta designer aprendeu, num dos melhores alfaiates londrinos, os Savile Row, que uma nódoa não se lava: deve deixar-se secar e, por fim, escovar. Se o assunto ficar resolvido, não precisam de todo de ser lavadas. Não funcionará com todos os tecidos e com todas as nódoas, mas o princípio é ecológico e poupa as peças, que se gastam mais facilmente com lavagens frequentes.

Cuidar da roupa pode levar-lhe mais tempo do que encher a máquina de roupa e pô-la a trabalhar - é verdade. Mas a crise climática que vivemos exige isso mesmo: uma mudança de mentalidades e de estilo de vida.

É melhor pôr a arejar roupas que não têm nódoas do que lavá-las a cada utilização. Não só porque isto reduz o gasto de água e energia, mas não liberta os tais microplásticos e poupa a roupa, que vai perdendo cor e forma na máquina de lavar — sobretudo as roupas mais delicadas. A lingerie, por exemplo, deve ser lavada à mão, porque as rendas e tecidos finos se desfazem - literalmente - com os movimentos e temperaturas da máquina.

Se a lingerie tem mesmo de ser lavada — e isso não se discute — as calças de ganga não querem nem ver água. Quem o diz é o responsável pela Levis. Chip Bergh, CEO da icónica marca de gangas, declarou em 2014 que nunca tinha lavado as suas Levis. O mundo ficou ligeiramente chocado e, em 2019, Bergh disse à CNN que as mesmas calças, na altura com 10 anos, continuavam sem ser apresentadas à água.

Não precisamos de voltar a perguntar. A preocupação de Chip Bergh é com o tingimento do tecido, que se vai perdendo com as lavagens — o especialista vai mais longe e afirma que, não as lavando, o tecido vai ficando mais macio e assenta melhor, porque ganha as formas do corpo.

Para matar germes e maus cheiros, a técnica de Bergh é simples: dois dias de congelador. Isso mesmo: dentro de um saco, entre as sopas que salvam refeições em cima da hora e o gelado, um ombro amigo sempre disponível.

Use sacos coletores de microplásticos

Uma das soluções para evitar que os microplásticos vão parar às canalizações e, por fim aos mares, é usar sacos coletores de microplásticos, como os da Skizo, feitos em Portugal, a partir de redes de pesca e plástico apanhado no oceano.

Funciona de uma maneira simples: as roupas sintéticas (que libertam estas fibras nocivas) colocam-se fechadas dentro do saco. Para que as roupas se movimentem livremente, o saco deve estar cheio até dois terços apenas. Ao ser respirável, a roupa recebe água e detergente, mas os microplásticos ficam presos nos cantos do coletor. No final da lavagem, retira-se a roupa e essa sujidade acumulada na superfície do saco.

Use baixas temperaturas e ciclos curtos

Um estudo da inglesa Universidade de Leeds com a empresa de detergentes Procter & Gamble revelou, em 2020, que lavar a roupa a baixas temperaturas e usar ciclos mais curtos liberta menos microplásticos.

Além disto, a roupa desbota e deforma-se menos desta forma, o que a leva a durar mais. A lavagem testada neste estudo foi a 25ºC, por 30 minutos, por oposição a uma lavagem de 85 minutos a 40ºC. O resultado foi a libertação de metade das fibras e de menos 74% do tingimento.

Regular a temperatura da máquina

É bom lembrar que o aquecimento da água pode representar até 90% do consumo energético de uma máquina de lavar roupa — drasticamente reduzido quando se lava a baixas temperaturas.

Prepare a lavagem

Há nódoas difíceis que não vão sair com uma rápida lavagem a baixas temperaturas. Nesses casos, há que dar mais atenção à roupa. E isto significa uns mimos extra antes da lavagem, como aplicar o detergente na nódoa e esfregar um pouco com uma escova de roupa ou com o próprio tecido. Sim, à antiga, honrado as avós que torceram o nariz à máquina de lavar a roupa porque só esfregando no tanque é que ela ficava bem lavada. Para estes nossos tempos modernos, basta uma esfregadela localizada — em alguns com escovas próprias para tecidos delicados, para que não se danifiquem.

Escolha detergentes biodegradáveis

Os detergentes compõem-se, em geral, de alguns químicos tóxicos, como fosfatos, que fomentam o crescimento de algas que, em excesso, destroem ecossistemas aquáticos.

O Rótulo Ecológico Europeu (Ecolabel) ajuda a distinguir os detergentes tóxicos daqueles que são rapidamente biodegradáveis. O melhor é que estes detergentes não sejam em pó, porque estes aumentam a fricção com os tecidos e libertam mais microfibras do que os líquidos. Aliás: ideal mesmo é que sejam líquidos e comprados a granel, para desincentivar o mercado a produzir mais embalagens de plástico.

Reenchimento de amaciador

Sobre os detergentes, apenas mais uma dica: é muito importante não exagerar na quantidade de detergente, para que não haja necessidade de enxaguar a roupa mais vezes no final da lavagem e assim gastar mais água.

A lógica, na lavagem e no tratamento do teu guarda roupa, é muito simples: quando cuidas da tua roupa estás a cuidar do ambiente. Tudo o que evita o descarte de roupa e a mantém impecável por mais tempo é um bom princípio.